20 de Abril de 2011
Programa da RTP 1 – Portugal e o Futuro - Entrevista Conduzida por Fátima Campos Ferreira
General Ramalho Eanes, ex Presidente da República, foi esta noite o entrevistado no Canal de TV RTP 1 por Fátima Campos Ferreira.
Relatamos o essencial do que retivemos da entrevista conduzida por Fátima Campos Ferreira ao ex Presidente da República, General Ramalho Eanes
Fátima Campos Ferreira (FCF): Como lê o sinal do atraso dos pagamentos dos salários aos militares do Exército?
Ramalho Eanes (RE): Não é o facto de ter existido um dia de atraso no pagamento do salário dos militares que é grave. O problema que se coloca é que isso pode ser um sinal grave. Toda a gente está com medo que o Estado falhe amanhã com os seus pagamentos.
FCF: Poderá estar o País à beira de convulsões sociais se houver mais austeridade? É dito por uma agência internacional que há risco de motins por cá.
RA: Creio que há aí um exagero. Portugal é um País pacífico e só haverá esse perigo se não se conseguir resolver a actual situação de crise. Mas é muito e importante resolver o problema dos que têm fome.
RA: O Povo Português é um povo calmo. É preciso que não falte o essencial. Temos que ser pacientes e temos que nos unir para superar a crise.
RA: Não vejo problema em que a sociedade civil auxilie e ajude os que menos têm.
RA: Noutras alturas também já vivemos situações críticas. Há horas em que é preciso fazer sacrifícios. Temos que resolver os problemas para evitar os eventuais conflitos sociais.
FCF: E o que acha que o Presidente da República poderia ter feito? Será que o Presidente da República poderia ter evitado a inacção, antes da chegada do FMI?
RE: O problema não foi o Senhor Presidente da República.
RE: Eu fico preocupado e surpreendido com os partidos políticos. Nesta negociação tinha que haver concentração de forças. Todos os partidos deveriam procurar consertar estratégias e deveriam apresentar-se unidos para negociar junto da ajuda externa. Unidos e em sintonia.
RE: Em política o diálogo é indispensável. É preciso dialogar, sensibilizar os outros e ouvir os outros. A democracia é a civilidade. É preciso saber ouvir os outros.
RE: Quando eu fui Presidente, o líder do Partido Comunista dialogou muito comigo e por vezes esses diálogos eram proveitosos. Podem encontrar-se soluções através do diálogo.
FCF: Qual deveria ser a estratégia seguida pelo Presidente da República Cavaco Silva?
RE: Quando falamos do Senhor Presidente da República Cavaco Silva, temos de contextualizar. Dentro do contexto, compreendo a sua actuação.
RE: Um Governo minoritário não resolve os problemas do País. Só um Governo forte. Um Governo de Salvação. Um Governo minoritário não resolve.
FCF: Na presente situação, o que devia ter feito o Presidente da República Cavaco Silva? Deveria ter antecipado a actual situação de crise?
RE: Não! Quando os partidos lhe dizem que querem eleições, ele não tinha alternativa.
RE: O Presidente da República tem que ser paciente e prudente. Tem que actuar muito nos bastidores.
RE: É preciso não esquecer que estamos em período pré eleitoral
RE: Apesar de estarmos a viver uma situação de crise, temos objectivos. Pretendemos juro da dívida baixo, período de pagamento longo e criar condições para pagar a divida.
FCF: Mas o Senhor General concorda que nada é possível sem acordo partidário?
RE: É preciso concentração de esforços. Assim tudo será mais fácil.
FCF: E o que acha do Primeiro Ministro José Sócrates?
RE: Tenho pena que os Portugueses só apontem defeitos ao Primeiro Ministro. Atenção que ele tem defeitos, mas ele tem feito um bom trabalho em diverso domínios. Por exemplo, nas energias renováveis, no ensino superior. No ensino superior temos cada vez mais cidadãos com esse nível de ensino. O próprio Ministro das Finanças é muito competente. Não se percebe bem o que fez agora, mas esteve muito bem até Julho de 2010, altura em que referiu que se os juros da dívida chegassem aos 7%, seria de admitir a entrada do FMI em Portugal.
RE: Temos que evitar a demagogia. Quem coloca os governos no poder somos nós.
RE: Os Portugueses quando solicitados conseguem responder bem aos problemas. Por exemplo, o espírito de entreajuda e solidariedade dos Portugueses por ocasião da tempestade e tragédia na Madeira
RE: Quanto a Passos Coelho, tenho simpatia por ele. Vamos esperar que mostre o seu programa e que diga por quem se vai rodear.
FCF: E que acha de Fernando Nobre na Assembleia da República?
RE: Numa primeira fase, surpreendeu-me negativamente. Entretanto mudei de opinião acerca dele, quando vi a entrevista em que falou aqui consigo neste programa. Penso q ele acha q pode dialogar e a parti dali pode fazer alguma coisa.
RE: Acho que se Fernando Nobre chegar ao lugar que pretende, se vai frustrar e não vai conseguir.
RE: É preciso que haja empresários políticos.
FCF: O que significa isso?
RE: Empresário político é homem que é capaz de liderar. É o homem competente que é capaz de arrastar os outros. Tem competência política, tem qualidade, sabe esperar e dialogar.
RE: Para ultrapassar o mal deste País, como um dia disse Mouzinho da Silveira, é preciso trabalho determinação, exigência e responsabilidade e fazemos aqui outro Brasil.
RE: Passámos a viver como se fossemos ricos.
RE: Criámos um estado social sem termos um suporte do estado económico. Começámos a pedir emprestado para satisfazer desejos e não o devíamos ter feito.
RE: Não devíamos esperar que fosse a Europa a dar-nos fartura , mas devia-mos fazer o nosso futuro a partir daqui.
RE: Eu não quero falar em pessoas. Espero que Portugueses queiram saber toda a verdade sobre a real situação em que o País se encontra. Todos juntos temos que unir esforços.
RE: Deve haver um Governo de largo espectro político. O Presidente da República (PR) vai exigir um Governo desse estilo.
FCF: Se não for assim o PR deve nomear um Governo de unidade nacional?
RE: Acha que é possível admitir que os Partidos não se coliguem e não se entendam?
RE: Eu não ponho sequer a hipótese que eles não se entendam. Têm q se entender todos.
FCF: A crise do Euro pode derrotar a UE?
RE: Eu sou um Europeísta. A UE tem sido uma realidade que passou da esperança e da promessa para a desilusão.
RE: Eu acho que actualmente não há lideres na Europa ao nível e estrutura de Jaques Delors , bem como Smith e outros fundadores da União Europeia.
RE: Não há uma liderança como noutros tempos . A Europa podia ser uma enorme potência no mundo mas está numa situação de crise. Por exemplo, veja-se a crise na Líbia. Desde que os Estados Unidos da América se foram embora, ninguém se entende.
RE: A situação é muito grave. Nas horas amargas, temos que aceitar sacrifícios esperança e responsabilidade. Se estamos em crise não foi só por causa dos outros mas também por causa da nossa inércia.
RE: Há que ter confiança e esperança no presente porque temos futuro.
A sociedade deve ser mais trabalhadora, solidária e determinada.
José Luís Magalhães
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